terça-feira, 22 de agosto de 2006

Términos

Algumas coisas, quando acabam, nos deixam meio sem chão.

Outras a gente nem percebe que terminaram. Ainda estavam ali? Puxa.

Algumas acabam e insistem em continuar lá, no meio do caminho. Vai a alma, fica o corpo.

Outras morrem, mas lhes falta a coragem de avisar. A gente é que precisa decretar o fim, sacramentar uma decisão que nem foi nossa. Dão duplo trabalho.

E tem aquelas que a gente faz de tudo pra que não morram. Respiração artificial, massagem cardíaca, choque elétrico, lágrimas, risos, súplicas. Às vezes adianta, às vezes não.

Às vezes é melhor que elas terminem, mesmo que a gente não queira. Às vezes não.

Tem coisas que, só quando acabam, é que a gente vê o baita volume que faziam na vida da gente.

E tem outras que, embora se suponha finitas, nunca terminam. Ficam escondidas, à espreita.
Quando menos esperamos, nos surpreendem. De novo e de novo.
Às vezes, em plena luz do sol. Às vezes, no silêncio do fundo do coração.

(22.08.2006)

segunda-feira, 14 de agosto de 2006

Nessa época do ano, quando o frio vem chegando...

Parafraseando a canção dos Paralamas, lembro-me de que nessa época do ano, quando o calor (normalmente) vem chegando, me vem também um banzo de anos idos - quando o solzinho começava a aparecer, tímido, pós-vento frio de junho/julho. Quando adolescente, sempre gostei do inverno. Morando no interior, inverno era sinônimo de tirar do armário aquele casaco pesado, os agasalhos de lã e dar aquela desfilada básica pela escola, ostentando os modelitos. Com sorte, tínhamos também quentão, vinho quente e uns programinhas invernais cheios de promessas, para logo ou para longe. Trago boas lembranças dos meus invernos adolescentes, apesar das temperaturas nem sempre amigáveis - pois o interior paulista também saber ser beeeeem frio quando quer.

Apesar disso, depois dos fantásticos vinte dias de gelo anuais, vinha de novo o sol e aquele arzinho de final de ano se aproximando. Com sorte, uns passeios ao ar livre e as voltinhas de bicicleta no final de tarde – uma tarde iluminada que invadia a noite. Eram oito horas e o sol ainda lá, com preguiça de se despedir.

Naquela época o efeito estufa e as promessas de desgraças climáticas não assustavam tanto também. Uma lembrança é infalível - o cheiro dos finais de tarde e das manhãs desses meses de transição. Sim, as tardes e manhãs tinham perfume característico. Era um cheiro que ficava no ar da cidade inteira, um cheiro de sol se abrindo no estio. Pode existir isso? Nas minhas tardes adolescentes, sim.

Depois vim para São Paulo e, naquele meado da década de 1990, comecei a brigar com o frio. Aqui o inverno era maior do que vinte dias, o vento gelado cortava mais. Minha pele se ressentia e meus pulmões reclamavam da temperatura que não era tão de brincadeira. E eu passei a não ter mais tanta simpatia pela estação. E a gostar ainda mais dos ventos de agosto, que traziam o solzinho tímido e aquele cheiro tão característico – sim, eu ainda o sentia nos finais de tarde do meu apartamento, lembrando lugares anteriores.

Hoje em dia, não encontro mais aquele inverno gélido de dez anos atrás, dos meus primeiros anos de volta à Paulicéia. O tempo enlouqueceu, como todos sabemos. De vez em quando aparece uma frente fria que deixa todo mundo gripado para, dias depois, ceder lugar a um calor senegalês em pleno julho. Mas eu, sem sentir cheiros há umas duas semanas mais ou menos, sei que aquele perfume das minhas lembranças está no ar, ainda. Sei que, quando essa gripe passar, ele virá me saudar o segundo semestre, que já está quase se adiantando no calor.

(14.08.2006)