domingo, 24 de junho de 2007

Vontades

Vontade de olhar na janela e sentir cheiro de pipoca.
Vontade de cultivar idéias salvadoras, antídoto para a sombra.
Vontade de transformar o drama em piada, piada que te faça rir antes dos outros.
Vontade de fechar os olhos para os defeitos da parede, para a sala desarrumada.
Vontade de fazer a mala de alegria, juntar as roupas, chamar um táxi e voar para o horizonte.
Vontade de pegar no colo a garotinha do farol, tão pequena, com seus cachinhos no asfalto do domingo.
Vontade de chorar e limpar a alma.
Vontade de respirar o ar da mudança, de fazê-lo ser mais do que letras e frases.
Vontade de identificar o olhar.
Vontade de ser mais rápida que o pensamento, de controlar o verbo do repente.
Vontade de soltar o repente da ação.
Vontade de livro de histórias, de vento ao entardecer, de grama verde e ar fresco.
Vontade de ser simples, de precisar entender menos.
Vontade de buscar surpresas, de abrir o peito.
Vontade de andar. E fazer o caminho.

(24.06.2007)

terça-feira, 12 de junho de 2007

Depurando ouro

Há algum tempo, entrei na comunidade "eu adoro viajar". Descobri essa característica incondicional do meu ser. Eu realmente adoro viajar. Eu já sabia disso, mas era uma consciência meio teórica. De uns tempos pra cá, tenho experimentado o verdadeiro prazer de cortar todas as amarras, dar um tempo nas referências de todo dia e ganhar mundo. Antes de ser um ato, esse é um sentimento. É preciso se sentir na estrada, se sentir caminhando. Seja apenas 100km rumo à costa vizinha de casa. Sejam 11 mil quilômetros por oceanos desconhecidos. Sejam 2 mil quilômetros rumo às terras do sul. Mesmo que seja por um mês, quatro dias ou 48 horas.

Tem gente que viaja para conhecer outros cenários. Para experimentar temperos, sotaques e paisagens. Mas antes de chegar ao novo, a verdadeira mágica da viagem é esquecer o de sempre. Aquele conjunto de circunstâncias que te dão nome, identidade, trabalho, horário de sair e voltar, telefonemas diários, bom dia pro porteiro. Essas coisas que, de tão presentes, às vezes acabam virando a gente mesmo. E que, quando somem, ainda que por um tempo, dão espaço para que a gente de verdade apareça.

Até a hora em que a segunda parte da mágica acontece: na terra distante, lembrar dos tempos de feijão-com-arroz e sentir saudade. Saudade legítima e seletiva, das coisas que valem a pena. Das pessoas que fazem a diferença. Uma saudade boa, da certeza do reencontro. O alento de voltar pra casa. O filtro que nos mostra aquilo que, quando vamos, deve realmente ficar.

Viajar pode ser pra dentro também. Por terras às vezes inóspitas, mas igualmente fascinantes. É preciso coragem pra viajar pra dentro. Mas, depois de colocar o pé na estrada, se tem, ainda que de longe, a sensação de velho alquimista. Sai-se em busca de ouro, depurando velhos metais. E um dia, ao olhar para o caldeirão, se percebe que ali está, purificada, a alma de quem procura.

(12.06.2007)

Coisas muito bestas

... que me causam saudades furtivas no meio da tarde.

Parar pra comer em posto de estrada, de madrugada.
Se arrumar pra ir em baile de formatura (e se acabar com as músicas nonsense).
Dar risada com amigos do trabalho, às 5 da tarde, acompanhada de café e croissant de chocolate.
Aberturas de novelas que já acabaram.
Café na cozinha de casa, chegando da aula vespertina.
Céu vermelho do interior.
Céu azul, escancarado, do interior.
Pratinho de camarão na praia.
Cheiro de mar (no mar).
Bebidas de festa junina.
Comidas de festa junina.
Nadar.
Dormir até tarde.
Devorar um bom livro.
Rir muito ao telefone.
Ser tirada pra dançar.
Cheiro de comida de Natal.
Dormir numa viagem.

(01.06.2007)

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Esses dias

1h30 de ônibus. Pra cada ida e volta.
9h de trabalho.
1h de almoço.
3 h de ensaio.
2h para destravar os músculos.
1h pra destravar a alma.
3 horas de internet (picadas).
40 minutos de leituras. No metrô.
1h de supermercado.
2h de serviços domésticos.
6h de sono (tá... umas 5 e pouco).
4h de viagens intermunicipais.
3h de cochilos (aos domingos).
10 min de televisão.
Zero de música (que semana!).
20 min de bate-papo.
30 de papo-furado.
E coração ainda atento, no meio da ventania.

(06.06.2007)