domingo, 28 de junho de 2009

Atlântico

Será que isso é saudade
possibilidade
desejo desesperado
de ver o sonho voar
ou só vontade de abraço
em tarde cinza de domingo?

(28.06.2009)

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Virada

Como conviver
com o caos
com a dor
com a luta
com a fera
com a raiva
com o mar
com a chuva
com os ares
e a revolta
desse mundo
ao olhar
toda a força
de seus olhos
mundos negros
na penumbra?

(18.06.2009)

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Paradoxos encontráveis

Tem algumas pessoas ou costumes na vida que a gente deixa de rever ou praticar, de uma hora para outra. Geralmente, por um bom motivo. E é comum nos esquecermos disso de vez em quando, quando pensamos "puxa, eu gosto tanto de tal pessoa, não sei por que a gente não se vê mais vezes", ou "eu fazia isso toda semana, por que deixei de fazer?". E é comum também que, assim que a gente reveja a pessoa ou refaça a referida coisa, acabe se lembrando imediatamente do motivo de a ter deixado - seja ele de ordem prática ou de atual (falta de) afinidade mesmo.

Felizmente, há também os casos opostos: aqueles em que a gente sente preguiça, adia, tenta arrumar desculpas, mas alguma coisa faz com que siga em frente, não remarque, pegue trocentos ônibus para chegar ao momento de retomar ou reforçar o contato. E, frente a frente, tenha a feliz sensação de saber, exatamente, o por quê de nunca ter desistido.

(17.06.2009)

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Seresta, mas sem café

Almoço de domingo. A mãe comenta que fizeram muito barulho na rua, na noite passada.

- É por causa do posto de gasolina. Os meninos ficam se concentrando lá e 'cantando os pneus' dos carros - comenta, descrevendo situação típica de dez entre dez cidades do interior.

- E olha que nem tem nenhuma moça da idade deles que more por aqui - diz o pai.

Todos fazem cara de 'Hein?'

A mãe olha para ele com expressão surreal.

- Agora você me fez ir até "mil novecentos e bolinha" - diz, talvez escolhendo a gíria jurássica pra ressaltar a antiguidade da lembrança.

E eles começam a contar. Nos anos idos, era costume dos rapazes saírem às ruas em bando, tarde da noite, violão em punho, para homenagear suas amadas.

- Nesta casa mesmo, onde nós moramos hoje, moravam duas moças - conta o pai - e uma vez o Belinho colocou um piano de cauda na carroceria do caminhão e parou aqui em frente, só para tocar para uma delas.

- E no final ela nem se casou com ele! - completa a mãe.

Mas a seresta não era dedicada só às namoradas ou pretendidas. Também mães, ou amigas, ou até alguma professora querida podiam ser homenageadas. Eles se reuniam e iam em excursão à casa escolhida naquela noite e, enquanto uns tocavam e cantavam, o respectivo namorado ou admirador da moradora ia bater à janela dela e oferecer uma rosa.

Às vezes, a seresta era um pedido de desculpas por alguma mancada do seresteiro. Em outras, era já esperada e anunciada com antecedência. Nesses casos, os pais da eleita preparavam até um lanchinho pós-cantoria para os visitantes.

Isso quando eram bem-recebidos, claro. Teve uma seresta, por exemplo, em que o pai da moça, criador de cabras, saiu à rua lá pela 1h da manhã mandando os meninos calarem a boca, porque "com aquele barulho os animais não iam dar leite no dia seguinte". Mas no geral, a rapaziada se saía bem.

- Eles ofereciam conhaque, chocolate quente, pãezinhos. E os meninos se fartavam, é claro - conta a mãe.

Só havia um artigo obrigatório no Código de Honra da Seresta Masculina: nunca, jamais, em tempo algum tomar café oferecido pelos pais da moça.

- Tinha uma simpatia naquele tempo - diz o pai. - Diziam que, para fazer o rapaz casar, as famílias serviam café coado na calcinha da menina. A gente passava frio, sede, mas não bebia café de jeito nenhum!

E uma vez meu pai fez uma seresta para a minha mãe, embalada pelo violão de um amigo, Alvino, que até hoje mora perto de casa. E uma tia, que morava na capital e estava passando uns dias na casa da minha avó, se admirou e abriu todas as janelas de madrugada, encantada, pois "em São Paulo não se vê mais dessas coisas". Talvez o bolo de maçã da minha avó (feito na maior higiene, bom que se diga!) também tivesse suas propriedades casamenteiras.

(08.06.2009)

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Coisas não tão bestas

... que me causam saudades furtivas no meio da tarde.

Parar pra comer em posto de estrada, de madrugada.
Se arrumar pra ir em baile de formatura (e se acabar com as músicas nonsense).
Quarto de hotel com os pais (na infância).
Andar pelo Horto Florestal, sentindo cheiro de eucalipto.
Dar risada com amigos do trabalho, às 5 da tarde, acompanhada de café e croissant de chocolate.
Almoçar com os mesmos amigos no parque, em dias de trabalho.
Tomar uma bebida quente olhando o frio lá fora (em contextos diversos).
Trocar emails com novas variações sobre piadas fixas.
Aberturas de novelas que já acabaram.
Café na cozinha de casa, chegando da aula vespertina.
Céu vermelho do interior.
Céu azul, escancarado, do interior.
Pratinho de camarão na praia.
Cheiro de mar (no mar).
Bebidas de festa junina.
Comidas de festa junina.
Nadar.
Dormir até tarde.
Devorar um bom livro.
Rir muito ao telefone.
Ser tirada pra dançar.
Receber (boas) ligações de madrugada.
Dedicar músicas.
Cheiro de comida de Natal.
Dormir numa viagem.

(01.06.2009)