
O carro encostava em frente à casa de quintal grande, num bairro afastado da cidade, e dele saía a senhora com os dois meninos. Vinha também o irmão dela, alto e forte, para levar o pinheiro. Às vezes vinham de kombi, a kombi da empresa de gás do marido da senhora, que nem era tão senhora assim. E os dois meninos desciam junto, na carreira, e corriam para o fundo do quintal. Enquanto a senhora que morava no centro da cidade escolhia a árvore mais bonita, os meninos subiam nas árvores, gritando de alegria, e comiam todas as frutas que podiam. A senhora e a mãe da menina trocavam dois dedos de prosa e a dona da casa oferecia a sacola, cheia de mangas fresquinhas. Presente cheiroso de Natal. O irmão da senhora então pegava nas costas o pinheiro e saía reclamando, "isso pinica, pô". Os meninos vinham atrás, rindo e brincando, com cheiro de fruta.
A menina via e já esperava a mesma cena todos os anos. Tempos depois, na cidade pequena, precisou mudar de escola para seguir a vida. Ali, se encantou com os olhos verdes de um rapaz. Um dia, depois de trocas mútuas de expectativas, saíram. No final da noite, ele a deixava em casa, como todo bom rapaz de cidade pequena deve fazer. E, ao encostar no meio-fio, fez o comentário: "nossa, é a casa dos pinheiros".
E a menina, num segundo, olhou e reconheceu naqueles olhos verdes as mesmas risadas do menino que invadia sua casa todo dezembro. E viu que já conhecia, desde sempre, seu presente de Natal.
(15.12.2006)