sexta-feira, 15 de setembro de 2006

Hoje

Meus olhos hoje vêem inquietação e coragem. Vêem uma terra que não pára, que não se olha, que corre. Hoje meus olhos vêem um dia claro que forja idéias. A menina que passa levando um menino no ventre. A outra que pensa no menino que é luz dos seus olhos. Alheias a tudo, tão parte do mundo. Vejo a roda da fortuna girando, nos levando para a correnteza. Vejo sonhos subindo e queimando ao sol, vejo nuvens abaixo de quem voa de avião. Vejo os olhos castanhos de um homem que é menino, que me olha, que fala comigo. Algo muda naquele segundo, mesmo que ele não saiba, não sonhe, não queira. Mesmo que eu não queira nada, só o instante de paz do sorriso escondido no turbilhão, escondido a ponto de nós dois não sabermos. Vejo amigos se afastando, tentando olhar por cima do muro. Meu olhar aflito procura a todos, quer guardá-los no bolso, levá-los na alma. Vejo o rosto da minha mãe me sorrindo. Os olhos verdes do meu pai olhando por mim. Sinto minha alma crescer e trombar com tantas outras almas furiosas lá fora. Meu coração avisa que está vivo. Quero agradecer a todos pela consideração e serviços prestados aos meus mais puros sentimentos. Olho pela janela e vejo o céu azul, o mesmo e tão diferente da adolescência. O instante que passa me comove, me amedronta e me encanta.

Sinto vontade de chorar. Mas pego o telefone e vou fazer ligações.

(15.09.2006)