terça-feira, 21 de abril de 2009

Mais cenas paulistanas

No domingo de manhã, de novo na Paulista, combinação insólita de shopping center e Feira de Artesanato - autêntica, original e com a cara dos autores, apesar de dentro do templo do consumo. Suprema ironia em tempos de padronização das feiras-hippies-de-artigos-do-Paraguai.

No meio da rua, debaixo de sol, se ouve um rock alto nas proximidades do semáforo. O condutor de uma Harley gigantesca, no bom humor de seus cinquenta e poucos, sabe que é atração. Sorri e acena para os passantes curiosos; é sua a manhã da Paulista. Os acordes alegres atravessam a rua, contrastando com a figura silenciosa do mendigo que faz ponto todos os dias - no domingo também - ao lado do shopping.

Na mureta da esquina, um casal gay conversa sem susto. Do outro lado da rua, outro artista de cinquenta e poucos inunda o asfalto com um solo de sax. Pelas notas fundas e calmas, o mundo fica grande no feriadão da Paulista.

(21.04.2009)

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Cenas noturnas

Semáforo abre na Avenida Paulista. Nove da noite, a língua de asfalto quase deserta. Os ônibus apenas avisam sua presença. De repente, o ciclista dá duas pedaladas certeiras e invade a avenida. Solto no espaço, noto seu sorriso de campos abertos.

Mais tarde, viro uma esquina em velocidade e espio pela janela. No meu ouvido, Zé Geraldo canta Mr. Tambourine Man. A cidade é uma cabana em frente ao fogo. Aconchegada em seus acordes, dedilho meu violão de idéias.


(15.04.2009)

terça-feira, 14 de abril de 2009

Mito moderno

Ditou a esfinge:
decifra-me ou devoro-te.
E ao decifrá-la,
por livre vontade
escolhi ser devorada.

(14.04.2009)

quarta-feira, 8 de abril de 2009

O começo do início

Recentemente, durante um curso, a professora nos fez um relato muito interessante. Ela falou do ponto crítico em que decidiu mudar de vida. Tinha um emprego estável, um casamento burocrático, um cotidiano previsível. Até que lhe caiu em mãos um livro que abriu as portas para um novo conhecimento. Ela pirou. Devorou o livro, buscou mais informações, foi para o outro lado do mundo estudar e transformou o então fascínio em profissão. O casamento foi sepultado de vez, seu antigo emprego também. Em troca, ela ganhou de presente um novo caminho, novas pessoas, uma realização genuína e novas paixões. E, ao resumir toda a trajetória, lembrou que tudo começou quando ela viu aquele livro e institivamente pensou: "Danou-se". Ela já sabia que sua vida iria mudar. Que ali estava um inadiável início.

E hoje, depois de um email e uma rápida conversa, de repente lembrei da professora. Coração inflado no peito, tive a sensação de que, mesmo que seja só o primeiro passo, não há outra alternativa senão me embrenhar nessa picada. Agora, danou-se. A vida me oferece o sonho, sempre novo, apesar dos já antigos planos. Minha única missão, neste momento, é comprá-lo.

(08.04.2009)