Tem gente que viaja para conhecer outros cenários. Para experimentar temperos, sotaques e paisagens. Mas antes de chegar ao novo, a verdadeira mágica da viagem é esquecer o de sempre. Aquele conjunto de circunstâncias que te dão nome, identidade, trabalho, horário de sair e voltar, telefonemas diários, bom dia pro porteiro. Essas coisas que, de tão presentes, às vezes acabam virando a gente mesmo. E que, quando somem, ainda que por um tempo, dão espaço para que a gente de verdade apareça.
Até a hora em que a segunda parte da mágica acontece: na terra distante, lembrar dos tempos de feijão-com-arroz e sentir saudade. Saudade legítima e seletiva, das coisas que valem a pena. Das pessoas que fazem a diferença. Uma saudade boa, da certeza do reencontro. O alento de voltar pra casa. O filtro que nos mostra aquilo que, quando vamos, deve realmente ficar.
Viajar pode ser pra dentro também. Por terras às vezes inóspitas, mas igualmente fascinantes. É preciso coragem pra viajar pra dentro. Mas, depois de colocar o pé na estrada, se tem, ainda que de longe, a sensação de velho alquimista. Sai-se em busca de ouro, depurando velhos metais. E um dia, ao olhar para o caldeirão, se percebe que ali está, purificada, a alma de quem procura.
(12.06.2007)
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