- É por causa do posto de gasolina. Os meninos ficam se concentrando lá e 'cantando os pneus' dos carros - comenta, descrevendo situação típica de dez entre dez cidades do interior.
- E olha que nem tem nenhuma moça da idade deles que more por aqui - diz o pai.
Todos fazem cara de 'Hein?'
A mãe olha para ele com expressão surreal.
- Agora você me fez ir até "mil novecentos e bolinha" - diz, talvez escolhendo a gíria jurássica pra ressaltar a antiguidade da lembrança.
- Agora você me fez ir até "mil novecentos e bolinha" - diz, talvez escolhendo a gíria jurássica pra ressaltar a antiguidade da lembrança.
E eles começam a contar. Nos anos idos, era costume dos rapazes saírem às ruas em bando, tarde da noite, violão em punho, para homenagear suas amadas.
- Nesta casa mesmo, onde nós moramos hoje, moravam duas moças - conta o pai - e uma vez o Belinho colocou um piano de cauda na carroceria do caminhão e parou aqui em frente, só para tocar para uma delas.
- E no final ela nem se casou com ele! - completa a mãe.
Mas a seresta não era dedicada só às namoradas ou pretendidas. Também mães, ou amigas, ou até alguma professora querida podiam ser homenageadas. Eles se reuniam e iam em excursão à casa escolhida naquela noite e, enquanto uns tocavam e cantavam, o respectivo namorado ou admirador da moradora ia bater à janela dela e oferecer uma rosa.
Mas a seresta não era dedicada só às namoradas ou pretendidas. Também mães, ou amigas, ou até alguma professora querida podiam ser homenageadas. Eles se reuniam e iam em excursão à casa escolhida naquela noite e, enquanto uns tocavam e cantavam, o respectivo namorado ou admirador da moradora ia bater à janela dela e oferecer uma rosa.
Às vezes, a seresta era um pedido de desculpas por alguma mancada do seresteiro. Em outras, era já esperada e anunciada com antecedência. Nesses casos, os pais da eleita preparavam até um lanchinho pós-cantoria para os visitantes.
Isso quando eram bem-recebidos, claro. Teve uma seresta, por exemplo, em que o pai da moça, criador de cabras, saiu à rua lá pela 1h da manhã mandando os meninos calarem a boca, porque "com aquele barulho os animais não iam dar leite no dia seguinte". Mas no geral, a rapaziada se saía bem.
- Eles ofereciam conhaque, chocolate quente, pãezinhos. E os meninos se fartavam, é claro - conta a mãe.
Só havia um artigo obrigatório no Código de Honra da Seresta Masculina: nunca, jamais, em tempo algum tomar café oferecido pelos pais da moça.
- Tinha uma simpatia naquele tempo - diz o pai. - Diziam que, para fazer o rapaz casar, as famílias serviam café coado na calcinha da menina. A gente passava frio, sede, mas não bebia café de jeito nenhum!
E uma vez meu pai fez uma seresta para a minha mãe, embalada pelo violão de um amigo, Alvino, que até hoje mora perto de casa. E uma tia, que morava na capital e estava passando uns dias na casa da minha avó, se admirou e abriu todas as janelas de madrugada, encantada, pois "em São Paulo não se vê mais dessas coisas". Talvez o bolo de maçã da minha avó (feito na maior higiene, bom que se diga!) também tivesse suas propriedades casamenteiras.
(08.06.2009)
Nenhum comentário:
Postar um comentário