O moço de farda pega ônibus às 9h da manhã. Não se sabe para onde vai àquele horário, junto com outros moços de farda. Que me conste, é horário para homens de farda estarem em serviço, não andando pela cidade, desarmados, em "ônibus civis". Mas o moço de farda, acompanhado de outros dois moços, está descendo a Brigadeiro num ônibus mais ou menos cheio, atravancando um pouco a passagem de quem entra, formando com seus colegas uma aglomeração verde-oliva antes do cobrador. Ele tem olhar discreto e tranquilo, diferente do que se pensa dos moços de farda em geral. E, mesmo com o rosto impassível e olhar distante, chama a atenção das moças, de cima de sua altura morena.
O moço de farda vira as costas para o rapaz que distribui canetas contando aos passageiros - que olham pelas janelas - a história longa de como conseguiu se livrar das drogas e de como a participação de todos ajudará outros a se livrarem também, graças a Deus. De repente, silencioso, o moço de farda aborda o rapaz e estende a ele uma moeda de um real, sob os olhares e a concordância de seus colegas.
Os moços de farda, inclusive aquele de olhar tranquilo, descem no final da avenida e vão para algum lugar da cidade. O que farão? Pegarão em armas? Engrossarão exércitos? Carregarão cestas básicas? Subirão o morro?
E o que acontecerá, naqueles tempos, com o olhar manso no rosto cercado de verde-oliva?
(29.11.2007)
quinta-feira, 29 de novembro de 2007
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