quarta-feira, 9 de julho de 2008

Portão de escola

Sabe aquelas crianças que, no primeiro dia de aula (ou no segundo, no quinto, no décimo...), se agarram chorando ao pescoço da mãe e não soltam de jeito nenhum, como se fossem ser abandonadas pra sempre? Não adianta explicar pra ela que é só por algumas horas, e que nesse meio tempo ela vai "fazer coisas muito legais, desenhar com a tia, brincar com os amiguinhos". Não adianta tentar persuadir, prometer coisas, dizer que "a mamãe já volta". Não adianta dizer que você está logo ali e que no final do dia voltará para encontrá-la. A urgência (ou medo) dela é maior do que isso, do que qualquer parquinho, brinquedo ou lápis de cor.

Depois de inúmeros shows, a criança, já "mocinha" (tipo uns dois anos depois), começa a achar os pequenos "bobos" por não conseguirem ficar sozinhos na escola. A sensação vai aumentando até chegar àquele espaço de tempo que vivemos entre o ser filha e o ser mãe - geralmente entre os 20 e os 30 anos - quando a gente olha de soslaio para aquelas duplas adulto/criança na porta da escola e, num silêncio um tanto enfadado, pensa com nossos botões: "ai, que paciência".

Mas o troco vem rápido para esse pensamentos pouco budistas. Tem dias em que a gente, sem chegar à iluminação materna, volta aos dias de infante que pedia colo. Acorda com vontade de ter febre, só pra matar aula e poder ficar na cama, com alguém trazendo chazinho pra gente tomar. Não quer ficar na escola sozinha, olhando em volta e esperando a palavra que não vem. Mesmo que saiba que no final do dia alguém vai vir te buscar. O "antes da hora" que a gente inventou, e que não acontece, vai virando uma coisa meio pesada, doída no peito. E a gente vira menina que viu o pai indo viajar, e passa as horas num silêncio sentido, sem pensar nem no brinquedo que ele prometeu trazer. No fundo, queria mesmo é ganhar, bem agora, um abraço. E alguém que, com um carinho, viesse nos pegar no colo e nos levar pra casa.

(09.07.2008)

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