quarta-feira, 21 de março de 2007

Não se reprima

Foi hoje, na hora do almoço. Alguém puxou um papo do tipo "como estamos velhos" e todo mundo desandou a dar suas contribuições. "Ah, eu ouvi só vinil até os 16 anos". "Ah, eu passei a infância e adolescência todas sem saber o que era um celular. Internet, só na faculdade". "Ah, eu tinha um disco compacto da novela Estúpido Cupido".

É claro que não demorou para nos lembrarmos do clássico dos clássicos da infância 80. Sim, eles, que fizeram milhares de pessoas se estapearem em frente ao Macksoud Plaza em algumas tardes oitentistas, em sua vinda ao Brasil. Eles, que provocaram engarrafamentos em estradas no eixo sul-sudeste do país. Eles, que foram responsáveis pelos maiores micos infantis da geração de garotas hoje na faixa dos 25-30.

Mas a gente não lembrou deles assim de cara, não. Antes passamos por referências mais atuais (e copiadas dos pais do movimento, claro), tipo New Kids on the Block e Backstreet Boys. E nem foi no momento-confessional "eu fui uma seguidora de Boys Band" que nos lembramos deles. Foi, sim, na hora dos compactos de vinil, quando eu ganhei o prêmio de bizarrice sonora do ano com a seguinte declaração:

"Eu tinha um compacto de vinil flexível, de plástico, transparente, que ganhei numa promoção da Tang. Vinha com apenas uma música e antes de começar, tinha a declaração de um deles (acho que o Ray) num portunhol incrível: 'Oy, eu sou o Ray, e estoy mucho contente de cantar para nostros maravilhosos fans do Brazil'."
A canção em si não era das mais famosas, nem das que lembramos primeiro hoje em dia, quando falamos desses áureos tempos. Mas eu me lembro muito bem, era uma cujo clip eu tinha visto acho que no Fantástico. Nossos heróis porto-riquenhos apareciam numa espécie de navio pirata, vestidos de corsários espanhóis, e o filminho tinha direito a mocinha amarrada no mastro, tiros esfumaçados de canhão e uns bandidos fake em terríveis cenas de luta. Tudo para que Robbie, é claro, pudesse salvar o dia e cantar o refrão em inglês, no final do clip, no ouvidinho da mocinha. Uau.

Entre lembranças do show assistido pela tevê (meu pai, desde aquela época, tinha aversão a multidões e se negou terminantemente a me levar) e álbuns de figurinhas perfumadas, com as fotos dos moços em letrinhas douradas, deixo aqui uma saudação a todos que testemunharam a passagem desse verdadeiro marco histórico trash-pop pelo país. Porque todo mundo tem seu lado negro da força pra confessar. E nem só de RBD vive o homem. :)

PS - Empolgada em colocar aqui o link para a obra-prima cinematográfica que citei neste post, localizei no YouTube um clip bem diferente daquele que minha memória guardava: realmente há o navio, e as piratas, mas os moços em questão estão vestidos com as roupas deles mesmos (todas iguais, no melhor estilo Power Rangers), e apenas caminham por um forte à beira-mar enquanto as "moças-piratas" os seguem com o olhar. Nada de lutas ou tiros de canhão... prova de que nem sempre se pode confiar na memória de uma criança de 8 anos, ou de que, aos 8 anos, a gente tem mesmo o poder (bendito) de sair do chão muito mais fácil. :)

(21.03.2007)

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