terça-feira, 13 de março de 2007

Palavras

Penso que palavras são pequenas fadas, travestidas de sons. Perigoso mexer com elas. Ao menor sinal de indecisão, se rebelam e saem na carreira, arrastando incautos sentimentos. Larápias, bolem com pensamentos e vontades. Fazem cócegas nos desejos, confessos ou não.

Bravas, as bichinhas. Belas filhas, formosas meninas. Mas, gatas caprichosas, decidem sozinhas o momento de fuga. Perfazem vôos lépidos sobre nossas cabeças, com sorriso maroto de fadas, diante da estupefação geral. Não precisam de sentido: invadem mentes e olhos. À guiza de encantamento, criam redemoinhos no ar. 

Mas voltam à casa, ao ouvir nosso choro, para fazer-se de abrigo. Com a graça de crianças novas, nos pegam pela mão e nos lembram de que nós mesmos, anjos caídos, construímos casinhas no ar. Moradas de fadas.

Caso seja imperativo tirar-lhes a amplidão, é mister fazer bom acordo. Ou vibrarão suas asas, perenemente, na mente do algoz iludido. Persistindo as amarras, chegarão ao coração - medida extrema, geralmente incurável.

Eis o preço a ser pago pelos adestradores de fadas: palavras esvoaçando na garganta, embotada em pó de pirlimpimpim. 

(13.03.2007)

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