domingo, 26 de agosto de 2007

Explosão

O espaço é belo. Quando a gente está voando, fica sem fôlego. Mas não de angústia. É a euforia de estar fora do chão, de explorar mundos novos. De ver nossa alma crescer, em êxtase, tão rápida e forte que não é possível registrar com pensamentos. A sinfonia de estrelas ao redor colore os olhos, em contraste com o azul quase negro, profundo e belo. Maravilha de se sentir ilimitado. De estar em um lugar onde tudo é claro, limpo e verdadeiro. Ali, nada pode nos atingir. Ao redor, só a imensidão. E a alma também imensa.

Mas o espaço também é lugar onde só se pode ir com roupa especial. Pois, para além da euforia, não há ar. A natureza do espaço é ser vácuo. No vácuo circula o belo, o surpreendente e também o mortal. Para conhecer o espaço, é mister o lastro. Lastro que nos puxa ao chão quando estamos soltos na amplidão, quando perdemos o senso e queremos nos fundir com o vazio, com a maravilha de estar livre, de ser só alegria. Lastro que nos impede de morrer, fora da natureza de animais bípedes que somos. Lastro que nos faz entrar na cápsula e voltar à terra, ao ar que nos nutre, discreto, sem que vejamos.

A cápsula, ao entrar na atmosfera, se transforma em fogo. Hora dramática para o astronauta: ele vê sua amplidão queimando, os sonhos feitos em gás incandescente. Dando espetáculo no céu, se consumindo. Morrendo.

Ele volta à Terra. Volta para o ar, a comida de todos os dias, suas raízes que o fazem viver. Ele reaprende a apreciar a dança lenta da natureza terrestre, do crescimento a que pertence.

Mas sua alma é outra. Ele agora vive com os olhos voltados para o céu. Lá onde está o sonho, a amplidão. Dividido entre as raízes que o nutrem e as asas que sonha ter.

No meio do caminho, a lembrança da explosão de luz. De seus sonhos, que tiveram na claridade a hora de maior verdade e beleza. Quando estavam no limiar do céu, sua casa. Quando se despediram.

"Uma astronave decola mediante uma explosão (fundamental), orbita em volta da Terra (pela Lei), executa todo o seu trabalho (escolha) e depois tem que retornar (missão). Segundo relatos, a reentrada na Terra é a experiência mais terrível para um astronauta, porque literalmente ele fica envolto em uma cápsula de fogo.
Se você decolou, vai ter que reentrar..." (de um amigo que sabe das coisas)


(Publicado originalmente em 26.08.2007)

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