Estou 6 kg mais magra.
Ganhei de volta uma calça que ia dar embora, porque não servia em mim.
Estou cercada de amigos e pessoas que amo. E que me fazem rir!
Tenho liberdade de escolher para onde ir, e sei como chegar até lá.
Importo-me com o que os outros pensam e sentem. E não tenho vergonha de dizer isso a eles.
Sou correspondida em meus amores mais perenes. Amigos, família, eu mesma.
Então, chegou o fim definitivo da insanidade.
Perdi o medo do pé na bunda. De levar e de dar, quando preciso.
Não
vou mais sustentar situações sem lógica. Ainda que seja a lógica do
desejo. O desejo broxa quando faltam a lógica da ética, do respeito, do
afeto.
E não estou nem um pouco preocupada. Pela primeira vez. É
leve o fato de estar feliz, a sós com a pessoa que mais gosta de mim no
mundo: EU.
Dane-se o medo de desperdiçar chances imaginárias. Foda-se a crise dos 30.
Falta de senso, eu tenho preguiça de você.
Se ser adulto é saber dizer adeus, bem-vinda, maturidade.
Eu te amo, eu mesma. Vamos lá fora, que o sol está brilhando.
(23.10.2007)
terça-feira, 23 de outubro de 2007
sexta-feira, 12 de outubro de 2007
É crise, querida!
Diz o sábio: no meio do redemoinho existe uma borboleta. Uma
borboleta bela e colorida, que voa calmamente, rodeada pelo mundo que
gira em insano movimento. Se você encontrar a borboleta, encontrará o
segredo da vida.
Não
achei que fosse chegar a escrever um post sobre esse assunto. Para mim,
alimentar um conceito como "a crise dos 30" já é, em si, uma crise.
Cansei de ver outras pessoas - especialmente mulheres - chegarem a essa
idade e sofrerem com a famigerada, a loura do banheiro que espreita o
balzaquiano momento. Tudo bem, eu também tinha medo, quando dos meus 20 e
poucos anos, de chegar a essa idade. Achava que, quando alcançasse o
limiar dos "inta", já teria que ter umas tantas coisas realizadas na
vida, suficientes para me tornar uma "adulta" respeitável, sem terrores
ou frustrações. Mas, com o passar dos últimos anos, fui achando que esse
negócio era balela. Encanada por natureza, crises já tive muitas. Aos
10, aos 15, aos 20 e aos 25. Grande parte, se vê depois, formada em seus
90% por motivos imaginários ou de pouca importância real. Cada uma
delas, superada de forma um pouco melhor do que a anterior. Com os 30
vai acontecer o mesmo, pensava. Nada de "ó que saudade dos velhos
tempos", nada de "não fiz o que queria até agora".
Mas
é claro, somos humanos e ninguém está livre de uma ou outra encanação
de vez em quando. Especialmente quando um feriado programado não dá
certo, quando a gente se depara com alguma injustiça (nossa ou de
outros), quando a sensação de "não tem jeito" nos invade. Quando a gente
vê que o tempo passou e a gente não percebeu. Pode ser alguém
inesperado se casando, pode ser uma foto de pessoas queridas que não
vemos há tempos, pode ser uma roupa rota que a gente comprou "ontem
mesmo". Qualquer coisa que nos traga a constatação: o tempo passou.
Continua passando, inexorável. E nessas horas a gente acaba fazendo
nossos mini-balanços.
Os amigos em
volta acompanham. Aqueles que também andam se sentindo acuados pelos
ponteiros do relógio. "Eu sou muito chato?", pergunta um deles,
companheiro do papo online no feriado. Não, querido, nada disso. É só um dia um
tanto vazio, em que gastamos nosso tempo revisando pensamentos. Logo
passa, não se preocupe.
A
gente conversa com os amigos enquanto procura também aquietar as
próprias indagações, as crises de choro que nem a gente entende.
Estranho sentimento esse, de saudade misturada à certeza de ciclo
encerrado. De que se quer bem a pessoas e coisas e, ao mesmo tempo, é
inevitável seguir em frente. Nada é poupado das dúvidas: será que estou
com a pessoa certa? Ou por que raios não encontro a pessoa certa? Será
que estou na profissão certa? Será que o que eu faço realmente contribui
para a sociedade? Será que afivelo as malas e caio na estrada? Será que
continuo economizando ad eternum para contrair outras dívidas eternas? Onde está a borboleta no meu redemoinho?
Acho
que não existe idade para encontrá-la, essa é a verdade. E esses
momentos de crise, a meu ver, têm a função importante de nos empurrar à
limpeza, àquela peneirada que precisamos fazer de tempos em tempos na
vida, dedicindo o que fica e o que tem que ir embora. Acreditar no
contrário, que se tem que estar assim ou assado nesta ou naquela idade, é
uma das maiores prisões que inventamos para nós mesmos. Assim como os
"30" me atemorizavam uns poucos anos atrás, vejo exemplos e mais
exemplos de pessoas que chegam aos seus 40, 50, 60, 90 plenas de alegria
e leveza no coração, mostrando a verdadeira sabedoria de passar pela
vida.
Todo
o resto - o pesar, o arrependimento, o que nos aprisiona em vez de nos
fazer crescer - precisa ser mais psicológico do que real. Quem me
ensinou isso foram as crises anteriores. O mundo é grande demais, assim
como nós somos grandes demais, para perder tempo com problemas
imaginários. Se algo não deu certo até aqui, toca mudar. Se deu certo e a
gente sente saudades, que bom, quer dizer que empregou-se bem o tempo.
Se falta alguma coisa que a gente já queria ter conquistado, bora
buscar. Se os bons tempos não voltam mais, outros virão, ainda em
branco, esperando que, com o aprendizado, os tornemos bons também.
Difícil
até concluir algo, no meio de tantas variáveis. Mas agradeço pelos
tantos caminhos que se abrem no horizonte, uma vez mais. Que a vida,
essa deusa em mutação, nos leve aos próximos ciclos... e que os próximos
feriados sejam mais belos e interessantes. :)
(12.10.2007)
quarta-feira, 3 de outubro de 2007
Ser feliz ou ter razão?
A pergunta tão crucial me foi apresentada – e celebrizada – pela
Paulinha, nos idos e bons tempos de Santíssimas ainda ativas. Já a ouvi
também em outros lugares, por outras pessoas. E de novo, há cerca de dez
dias, ela se apresentou para mim em visita a pessoas sábias e amigas.
A verdade é que, nos últimos tempos, essa pergunta não tem me abandonado. Desde uma grande sacudida no final do ano passado, e passando por todas as situações-limite que tem se apresentado a mim, uma após a outra, nos últimos doze meses. Vem tingida pelos ânimos do momento: às vezes filosófica, às vezes libertadora, às vezes dolorida. E de novo eu me vejo na impossibilidade de responder a essa simples pergunta, que resume em si algumas das grandes angústias da humanidade.
Difícil constatar que o que nos faz felizes e o que é “certo” podem, muitas vezes, estar em campos opostos. A escolha entre a consciência e a vontade louca de voar, o pasto de todo dia ou a liberdade de correr mundo. Optar entre se entregar a um sonho, assumir os riscos de uma aposta puramente emocional ou viver o cotidiano arrumadinho, previsível, com suas obrigações e suas plantas na janela.
Afinal, que perguntinha perniciosa, essa. “Ter razão” pode significar também uma razão cega, aquela que nos torna irredutíveis para a razão dos outros. Uma razão que, muitas vezes, nem é nossa, mas baseada na visão de outros sobre que devemos ou não fazer.
Mas pensando bem, isso é ter razão? E ser feliz, o que é? Afinal, ser feliz compreende também cultivar valores, ideais que nos são importantes, que muitas vezes são responsáveis pelo melhor de nós. Ter razão, para mim, significa principalmente ter razão diante do que a gente é – afinal, lá existe razão absoluta? –, diante do que pretendemos para a nossa vida, diante de nossa essência mais profunda. Aquela que nunca irá nos trair, que nos levará a caminhos autênticos, talvez não tão fáceis, mas certamente coerentes com o que precisa nossa alma, e com o que ela tem também a oferecer de melhor aos outros. Sim, porque não se pode ser verdadeiro com o outro apresentando a ele uma máscara. Essa deveria ser a verdadeira ética interpessoal.
Talvez a verdadeira razão, essa razão mais escondida, não seja incompatível com a possibilidade de ser feliz. Talvez seja, mesmo, imprescindível.
Vai ver, por isso é tão difícil ser feliz: depois de anos acreditando que se é uma planta na janela do apartamento, a gente se apavora com a possibilidade de ar fresco. Não sabe o que fazer diante de um horizonte aberto. Não consegue mais encontrar, dentro da gente, nossa verdadeira razão. O Sol, lá fora, continua sendo um só – mas nós, acostumados a dividi-lo em quadradinhos, não conseguimos mais enxergar o azul do céu que ele pinta.
Talvez a missão seja essa: juntar a felicidade à verdadeira razão, nesse labirinto que somos, moldado por tantas mãos ao longo da vida.
(03.10.2007)
A verdade é que, nos últimos tempos, essa pergunta não tem me abandonado. Desde uma grande sacudida no final do ano passado, e passando por todas as situações-limite que tem se apresentado a mim, uma após a outra, nos últimos doze meses. Vem tingida pelos ânimos do momento: às vezes filosófica, às vezes libertadora, às vezes dolorida. E de novo eu me vejo na impossibilidade de responder a essa simples pergunta, que resume em si algumas das grandes angústias da humanidade.
Difícil constatar que o que nos faz felizes e o que é “certo” podem, muitas vezes, estar em campos opostos. A escolha entre a consciência e a vontade louca de voar, o pasto de todo dia ou a liberdade de correr mundo. Optar entre se entregar a um sonho, assumir os riscos de uma aposta puramente emocional ou viver o cotidiano arrumadinho, previsível, com suas obrigações e suas plantas na janela.
Afinal, que perguntinha perniciosa, essa. “Ter razão” pode significar também uma razão cega, aquela que nos torna irredutíveis para a razão dos outros. Uma razão que, muitas vezes, nem é nossa, mas baseada na visão de outros sobre que devemos ou não fazer.
Mas pensando bem, isso é ter razão? E ser feliz, o que é? Afinal, ser feliz compreende também cultivar valores, ideais que nos são importantes, que muitas vezes são responsáveis pelo melhor de nós. Ter razão, para mim, significa principalmente ter razão diante do que a gente é – afinal, lá existe razão absoluta? –, diante do que pretendemos para a nossa vida, diante de nossa essência mais profunda. Aquela que nunca irá nos trair, que nos levará a caminhos autênticos, talvez não tão fáceis, mas certamente coerentes com o que precisa nossa alma, e com o que ela tem também a oferecer de melhor aos outros. Sim, porque não se pode ser verdadeiro com o outro apresentando a ele uma máscara. Essa deveria ser a verdadeira ética interpessoal.
Talvez a verdadeira razão, essa razão mais escondida, não seja incompatível com a possibilidade de ser feliz. Talvez seja, mesmo, imprescindível.
Vai ver, por isso é tão difícil ser feliz: depois de anos acreditando que se é uma planta na janela do apartamento, a gente se apavora com a possibilidade de ar fresco. Não sabe o que fazer diante de um horizonte aberto. Não consegue mais encontrar, dentro da gente, nossa verdadeira razão. O Sol, lá fora, continua sendo um só – mas nós, acostumados a dividi-lo em quadradinhos, não conseguimos mais enxergar o azul do céu que ele pinta.
Talvez a missão seja essa: juntar a felicidade à verdadeira razão, nesse labirinto que somos, moldado por tantas mãos ao longo da vida.
(03.10.2007)
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