A pergunta tão crucial me foi apresentada – e celebrizada – pela
Paulinha, nos idos e bons tempos de Santíssimas ainda ativas. Já a ouvi
também em outros lugares, por outras pessoas. E de novo, há cerca de dez
dias, ela se apresentou para mim em visita a pessoas sábias e amigas.
A
verdade é que, nos últimos tempos, essa pergunta não tem me abandonado.
Desde uma grande sacudida no final do ano passado, e passando por todas
as situações-limite que tem se apresentado a mim, uma após a outra, nos
últimos doze meses. Vem tingida pelos ânimos do momento: às vezes
filosófica, às vezes libertadora, às vezes dolorida. E de novo eu me
vejo na impossibilidade de responder a essa simples pergunta, que resume
em si algumas das grandes angústias da humanidade.
Difícil
constatar que o que nos faz felizes e o que é “certo” podem, muitas
vezes, estar em campos opostos. A escolha entre a consciência e a
vontade louca de voar, o pasto de todo dia ou a liberdade de correr
mundo. Optar entre se entregar a um sonho, assumir os riscos de uma
aposta puramente emocional ou viver o cotidiano arrumadinho, previsível,
com suas obrigações e suas plantas na janela.
Afinal, que
perguntinha perniciosa, essa. “Ter razão” pode significar também uma
razão cega, aquela que nos torna irredutíveis para a razão dos outros.
Uma razão que, muitas vezes, nem é nossa, mas baseada na visão de outros
sobre que devemos ou não fazer.
Mas pensando bem, isso é ter
razão? E ser feliz, o que é? Afinal, ser feliz compreende também
cultivar valores, ideais que nos são importantes, que muitas vezes são
responsáveis pelo melhor de nós. Ter razão, para mim, significa
principalmente ter razão diante do que a gente é – afinal, lá existe
razão absoluta? –, diante do que pretendemos para a nossa vida, diante
de nossa essência mais profunda. Aquela que nunca irá nos trair, que nos
levará a caminhos autênticos, talvez não tão fáceis, mas certamente
coerentes com o que precisa nossa alma, e com o que ela tem também a
oferecer de melhor aos outros. Sim, porque não se pode ser verdadeiro
com o outro apresentando a ele uma máscara. Essa deveria ser a
verdadeira ética interpessoal.
Talvez a verdadeira razão, essa
razão mais escondida, não seja incompatível com a possibilidade de ser
feliz. Talvez seja, mesmo, imprescindível.
Vai ver, por isso é
tão difícil ser feliz: depois de anos acreditando que se é uma planta na
janela do apartamento, a gente se apavora com a possibilidade de ar
fresco. Não sabe o que fazer diante de um horizonte aberto. Não consegue
mais encontrar, dentro da gente, nossa verdadeira razão. O Sol, lá
fora, continua sendo um só – mas nós, acostumados a dividi-lo em
quadradinhos, não conseguimos mais enxergar o azul do céu que ele pinta.
Talvez a missão seja essa: juntar a felicidade à verdadeira
razão, nesse labirinto que somos, moldado por tantas mãos ao longo da
vida.
(03.10.2007)
quarta-feira, 3 de outubro de 2007
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