sexta-feira, 12 de outubro de 2007

É crise, querida!

Diz o sábio: no meio do redemoinho existe uma borboleta. Uma borboleta bela e colorida, que voa calmamente, rodeada pelo mundo que gira em insano movimento. Se você encontrar a borboleta, encontrará o segredo da vida.

Não achei que fosse chegar a escrever um post sobre esse assunto. Para mim, alimentar um conceito como "a crise dos 30" já é, em si, uma crise. Cansei de ver outras pessoas - especialmente mulheres - chegarem a essa idade e sofrerem com a famigerada, a loura do banheiro que espreita o balzaquiano momento. Tudo bem, eu também tinha medo, quando dos meus 20 e poucos anos, de chegar a essa idade. Achava que, quando alcançasse o limiar dos "inta", já teria que ter umas tantas coisas realizadas na vida, suficientes para me tornar uma "adulta" respeitável, sem terrores ou frustrações. Mas, com o passar dos últimos anos, fui achando que esse negócio era balela. Encanada por natureza, crises já tive muitas. Aos 10, aos 15, aos 20 e aos 25. Grande parte, se vê depois, formada em seus 90% por motivos imaginários ou de pouca importância real. Cada uma delas, superada de forma um pouco melhor do que a anterior. Com os 30 vai acontecer o mesmo, pensava. Nada de "ó que saudade dos velhos tempos", nada de "não fiz o que queria até agora".
Mas é claro, somos humanos e ninguém está livre de uma ou outra encanação de vez em quando. Especialmente quando um feriado programado não dá certo, quando a gente se depara com alguma injustiça (nossa ou de outros), quando a sensação de "não tem jeito" nos invade. Quando a gente vê que o tempo passou e a gente não percebeu. Pode ser alguém inesperado se casando, pode ser uma foto de pessoas queridas que não vemos há tempos, pode ser uma roupa rota que a gente comprou "ontem mesmo". Qualquer coisa que nos traga a constatação: o tempo passou. Continua passando, inexorável. E nessas horas a gente acaba fazendo nossos mini-balanços.

Os amigos em volta acompanham. Aqueles que também andam se sentindo acuados pelos ponteiros do relógio. "Eu sou muito chato?", pergunta um deles, companheiro do papo online no feriado. Não, querido, nada disso. É só um dia um tanto vazio, em que gastamos nosso tempo revisando pensamentos. Logo passa, não se preocupe.
A gente conversa com os amigos enquanto procura também aquietar as próprias indagações, as crises de choro que nem a gente entende. Estranho sentimento esse, de saudade misturada à certeza de ciclo encerrado. De que se quer bem a pessoas e coisas e, ao mesmo tempo, é inevitável seguir em frente. Nada é poupado das dúvidas: será que estou com a pessoa certa? Ou por que raios não encontro a pessoa certa? Será que estou na profissão certa? Será que o que eu faço realmente contribui para a sociedade? Será que afivelo as malas e caio na estrada? Será que continuo economizando ad eternum para contrair outras dívidas eternas? Onde está a borboleta no meu redemoinho?

Acho que não existe idade para encontrá-la, essa é a verdade. E esses momentos de crise, a meu ver, têm a função importante de nos empurrar à limpeza, àquela peneirada que precisamos fazer de tempos em tempos na vida, dedicindo o que fica e o que tem que ir embora. Acreditar no contrário, que se tem que estar assim ou assado nesta ou naquela idade, é uma das maiores prisões que inventamos para nós mesmos. Assim como os "30" me atemorizavam uns poucos anos atrás, vejo exemplos e mais exemplos de pessoas que chegam aos seus 40, 50, 60, 90 plenas de alegria e leveza no coração, mostrando a verdadeira sabedoria de passar pela vida.
Todo o resto - o pesar, o arrependimento, o que nos aprisiona em vez de nos fazer crescer - precisa ser mais psicológico do que real. Quem me ensinou isso foram as crises anteriores. O mundo é grande demais, assim como nós somos grandes demais, para perder tempo com problemas imaginários. Se algo não deu certo até aqui, toca mudar. Se deu certo e a gente sente saudades, que bom, quer dizer que empregou-se bem o tempo. Se falta alguma coisa que a gente já queria ter conquistado, bora buscar. Se os bons tempos não voltam mais, outros virão, ainda em branco, esperando que, com o aprendizado, os tornemos bons também.

Difícil até concluir algo, no meio de tantas variáveis. Mas agradeço pelos tantos caminhos que se abrem no horizonte, uma vez mais. Que a vida, essa deusa em mutação, nos leve aos próximos ciclos... e que os próximos feriados sejam mais belos e interessantes. :)
(12.10.2007)

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