Sampa também tem luar :)
Estou de volta à minha cidade, São Paulo, depois de uma movimentada e
educativa temporada em Porto Alegre. Como diria o poeta Fernando
Pessoa, é difícil dizer o quanto isso me alegra e o quanto me basta. Em
meio às incertezas, a todas as idas e vindas, é bom reconhecer as ruas,
andar de novo pelo universo que me é tão caro. Nessa volta, assim como a
cada visita que fiz enquanto estive fora, reafirmo meu amor por essa
cidade. Ela é dura, injusta, louca e costuma abismar os olhos
estrangeiros. Tem problemas que, para muitos, caminham para o insolúvel.
A carência de planejamento urbano e social salta aos olhos diariamente,
testando a paciência e a persistência de todos. Tudo isso é verdade em
cada centímetro da cidade. Mas, para aqueles que a chamam de casa, São
Paulo é mais do que a dificuldade no trânsito, do que as enchentes que a
castigam, do que os desafios a serem vencidos. Reconhecê-la como lar
traz a sensação de muito trabalho a ser feito, mas também de horizontes
infinitos a desvendar. Quem vive e ama essa terra sabe que poucos
lugares do mundo oferecem espaço para o olhar como essa cidade. Porém,
para gostar dela, é preciso perceber a parte que nos cabe deste
latifúndio. É preciso entendê-la, ouvir a voz que sussurra em meio às
buzinas, às vozes, aos prédios altos que tapam o luar de vez em quando. É
preciso decifrar as histórias do seu passado, da sua identidade que
continua abaixo de nós como berço, em cada esquina.
Para entender
e aceitar São Paulo, é preciso reconhecê-la. Atentar à sua mensagem de
amplidão que nos grita por entre o concreto, dizendo que, se a
decifrarmos, poderemos ser o que quisermos. E depois de entender a alma
da cidade, depois de mergulhar nela, o olhar dificilmente conseguirá se
acostumar com horizontes menores do que este. Ainda que em cenários
opostos, diferentes e até mais gritantemente belos, ela nos acompanhará.
Nossa compreensão continuará gigantesca, como os muitos rostos, estilos
e mentes que a povoam. Como já disse outro pensador, você pode até
tirar um paulistano de São Paulo, mas não tirará São Paulo de um
paulistano.
E, para homenagear meu eterno amor em seu
aniversário, quero fazer um mergulho nas coisas simples do dia-a-dia,
que fazem a minha São Paulo. Listo aqui, como boas recomendações para
quem quer desvendá-la, algumas (porque sei que ainda vou lembrar de
muitas outras...) das minhas ocupações preferidas na Paulicéia – e
outros desejos e passeios paulistanos que ainda tenho vontade de
realizar. Tudo bem, tenho tempo. Ela, como sempre, está esperando de
braços abertos. :)
Coisas que adoro fazer...
- Passear na
Feira de antiguidades da Paulista aos domingos, constatando que os baús das nossas avós dariam pra abastecer ótimas barracas por ali.
- Aproveitar para ver alguma exposição bem boa no
MASP e terminar a tarde com um choppinho no
Opção.
- Andar sem pressa pela mesma
Paulista, desvendando seus tesouros históricos e artísticos - e aproveitando pra dar uma voltinha no
Parque Trianon.
- Sofrer ao querer comprar tudo na feirinha dos finais de semana no
Center 3.
- Almoçar na
Liberdade e depois conferir a também famosa
feirinha
no sábado ou domingo à tarde, aproveitando para conhecer a arquitetura
do bairro – que vai muito além das charmosas lanternas nos postes de
iluminação.
- Dar risada tomando chocolate quente com amigos na folclórica
Cepê.
- Ver as novidades malucas da
Benedito Calixto (ainda vou mobiliar minha casa com as coisas de lá!) e descobrir o artesanato cuidadoso dos artistas da
Praça da República.
- Deixar o espírito voar diante da paisagem vista de cima da
Comedoria do SESC – acompanhada do infalível capuccino e do pão de café com chocolate.
- Ficar tonta sem saber pra onde ir em noites e dias de
Virada Cultural.
- Caminhar e sentar à sombra das árvores do
Parque da Água Branca, e festejar o clima do lugar em dias de
Revelando São Paulo.
- Acompanhar as ótimas atrações do
Auditório Ibirapuera – e aproveitar para achar lindas, de novo, as curvas e retas do projeto de Niemeyer (Vai! rs).
- “Fazer a feira” com os achados da
Zépa, aproveitando pra passar pela
Estação da Luz.
- Engordar feliz com as maravilhas gastronômicas, e encher os olhos com as danças e o artesanato da
Festa do Imigrante – aproveitando para conhecer o
museu e achar alguns antepassados por lá.
- Olhar a lua cheia, linda em noites limpas, por entre os prédios da cidade.
- Ver o sol se abrindo em domingos de calor.
- Sentir a brisa perene que não nos deixa derreter no verão.
Coisas que já fiz e quero repetir...
- Visitar o
Museu do Ipiranga e descobrir as lendas que se escondem entre os céus e a terra do lugar.
- Ir ao
Instituto Butantã e à
Estação Ciência.
- Me emocionar com uma missa em canto gregoriano no
Mosteiro de São Bento.
- Voltar ao
Pateo do Collegio.
- Acompanhar a programação do
Museu da Língua Portuguesa.
- Assistir a uma ópera no
Teatro Municipal.
- Comer muita
pasta na
Festa da Achiropita do Bixiga. Ou uma bela pizza em alguma das ótimas cantinas do bairro.
Ma che!
- Admirar as ninféias do
Jardim Botânico, pedaço de paz no meio da cidade.
- Aproveitar um sabadão ou domingão para prestigiar os belos vizinhos: as construções históricas de
Paranapiacaba, a festa alegre dos finais de semana em
Embu das Artes e, claro, a aposta de pegar um pouco de sol (com ou sem engarrafamento) no
litoral!
Coisas que ainda não fiz (que vergonha!)
- Visitar a
Pinacoteca do Estado.
- Conhecer a
Sala São Paulo, se possível ouvindo uma bela sinfonia.
- Participar de uma
visita guiada à
Catedral da Sé, emendando com outra ao Centro Histórico de São Paulo – ambos já visitados e apreciados com o simples olhar de curiosa.
- Visitar o
Museu de Arqueologia da USP.
- Visitar o
Museu de Arte Sacra.
- Conhecer o
Solo Sagrado.
- Participar das comemorações do
Ano Novo Chinês (acabaram de acontecer!).
- Conhecer (e almoçar) no
Mercado Municipal.
Quem quiser me acompanhar, está convidado. Boa Sampa para todos! :)
(25.01.2009 - Pastel com Chimarrão)